Não, não me esqueci da tragédia que se abateu sobre a nossa terra, a nossa freguesia, e a nossa região!
Na altura nada publiquei aqui no blog, simplesmente porque o tinha inactivo, e também devo dizer que o cenário que se me apresentou quando cheguei perto da nossa terra me deixou com pouca vontade de escrever, e até de registar em imagens a desgraça que estava diante dos meus olhos. Ainda hoje penso...que ao passar por Avô não tive vontade de tirar uma única fotografia ao edifício onde funcionava um bar e que ainda ardia o seu interior...
Muito se tem escrito e já muito se escreveu sobre o terrível dia, e eu, hoje, pouco adiantarei com o que escrevo, mas como na altura não lhe fiz referência aqui no Blog, faço-o hoje para que sirva de memória e de consulta, porque publico aqui algumas fotografias inéditas (algumas já as publiquei nas redes sociais) e ainda um pequeno vídeo que dá uma pequenina "ideia" do que foi a minha aventura para chegar a Pomares...foi difícil, custou-me alguns sustos, 4 pneumáticos no carro e uma revisão antecipada com a devida substituição de todos os filtros...irão perceber porquê!!!
A primeira imagem que aqui publico já é conhecida, e já foi partilhada inúmeras vezes nas redes sociais, e apesar de a ter registado com uma das minhas maquinas....esta é uma imagem que a tenho gravada na memória, incapaz de ser "deletada", porque me impressionou de uma forma tal, que não tenho ainda hoje adjectivos para descrever o que senti...
Esta segunda imagem retrata a primeira barreira na tentativa para chegar a Pomares. Estou na estrada Arganil- Côja e fico barrado antes de chegar à zona Industrial...volto para trás...e tento seguir por Mouronho...via Estrada da Beira para tentar chegar a Côja...já que tinha a informação que por Vendas de Galizes era impossível...
O cenário era assustador para qualquer dos lados que se olhasse...
Esta foi uma imagem captada quando fiquei barrado, já na estrada que me levaria até Côja...
Travessia da estrada em direcção a Côja
Chegada a Côja...
Algum alívio por me sentir com alguma segurança! Estacionei o carro no parque, Subi até junto à ponte. Algumas pessoas na rua, poucas conversavam, Mais adiante, outras, com baldes e mangueiras apagavam alguns resquícios de focos de incêndio. Nos Bombeiros, quase ninguém, não tinham informação. Junto à Ponte, um GNR que tinha vindo deslocado da zona do Baixo Mondego. Pouca ou nenhuma informação tinha e estava sem água e sem comer. Seriam cerca das 02:00 horas do dia 16. Fomos ao carro (eu ia com o meu filho) e trouxemos-lhe uma sandes e uma garrafa de água. Agradeceu e ficámos por ali um pouco à conversa:
- Às tantas perguntou-me para onde íamos?
- Para Pomares, respondi eu!
- Para Pomares?
-Sim!
-Em Pomares, tenho lá um colega que foi com uma colega daqui...não sei nada dele, porque não há comunicações, mas por volta das 19:00 recebi um telefonema dele, de um telefone que não era dele a dizer-me" ó Pardal, eu nunca vi nada assim...não sei se saio daqui vivo...diz à minha mulher que a amo" explicou-me depois que esse colega tinha a mulher grávida...
Arrepiei-me...e fiquei muito mais preocupado...
Não podia prosseguir pela estrada dos Vales, nem pela estrada do Barril de Alva...tinha forçosamente que aguardar...
Cada minuto parecia uma eternidade...
Cerca das 02 e tal, perto das 03:00 da manhã, chega um jipe com dois GNR's. Um deles salta da viatura e abraça-se ao que estava ali em Côja. Percebi que era a equipa que esteve em Pomares. Abordei a Sra. Guarda, de quem não sei o nome, e tentei obter informações de como estava Pomares. Tudo queimado. Não havia vítimas...
Perguntei-lhe se as gentes das aldeias tinham sido evacuadas para Pomares. Disse-me que não houve tempo para isso, e não sabia de nada...Temia que houvesse vítimas....Fiquei em desassossego...percebi que todos tinham ficado por conta e risco próprio...abandonados à sua sorte!!!
A partir deste momento, já tive luz verde para prosseguir com cautelas redobradas e com a indicação de que em Vila Cova do Alva haveria risco de derrocadas para a via...
De Côja era bem visível a barreira de fogo que me impedia de chegar ao destino...
A chegada a Vila Cova de Alva esperava-me um cenário Dantesco, dificilmente de conceber ainda hoje...
Os focos de incêndio estavam por todo o lado...
Nada podia fazer e tinha que prosseguir para o meu destino...
Cheguei a Pomares...cerca das 03:00 e tal da manhã..."fumarolas" aqui e acolá. Não se via vivalma...um pouco estranho, mas ao mesmo tempo compreensível...já tinha ardido o que tinha que arder e era preciso descansar...
A cerca/parapeito do Caminho da Cernada estava irremediavelmente perdida..ardia...
O caminho parecia que tinha sido dinamitado...
Contrariamente ao que se verifica este ano, Outubro do ano passado foi extremente seco e com temperaturas altas...ingredientes que potenciaram o incêndio...(e não só)...
E o incêndio chegou mesmo à porta...
Galgou as margens e passou para o outro lado...chegou onde os "antigos" diziam que nunca chegaria...
Nas nossas aldeias serranas o prejuízo vê-se a cada esquina e em cada socalco, acabando as chamas por reduzir a cinzas muitos anos de trabalho árduo e muitas memórias...
E o fogo chegou ao coração das aldeias...
Quase 24 horas depois o fumo ainda ainda pairava na atmosfera tornando o ar pouco respirável, mesmo em sitios onde o ar é do melhor que há....
Nada escapou à fúria das chamas...
Aldeias mais castigadas do que outras...
Tornando paisagens idílicas de verde luxuriante em negro de arrepiar....
Desmoronamentos e altas temperaturas...
Casas de arquitectura serrana irremediavelmente perdidas...
Uma imagem que retrata que nada foi poupado...
Nem as placas resistiram...
Os caixotes do lixo sucumbiram às temperaturas...
Pomares aguentou, as pessoas resistiram sozinhas e conseguiram proteger os seus haveres, não viraram costas ao seu "inimigo" e salvaram as suas vidas e os seus haveres...
São e foram uns heróis!!!
Há um ano para cá tem-se feito muita coisa!
Iniciativas de reflorestação.
Iniciativas de retenção de terras prevenindo as enxurradas.
O que é visível foi a reconstrução de muito que as enxurradas destruíram. Fruto dos incêndios...mas quanto a preveni-los...nada foi feito!!!
Pergunto-me? E os resultados práticos?! E o futuro!
No que concerne à prevenção dos incêndios futuros a que a nossa terra está sujeita, pouco se fez e pouco se tem feito, nem se vislumbra nenhuma iniciativa...enquanto a natureza reclama o seu espaço. Os eucaliptos, a espécie que em tempos foi considerada o "petróleo verde" acabou por ser o petróleo para incendiar as nossas casas e os nossos haveres e que agora cresce ao "deus dará"...e sabe-se que por cada um que ardeu...nascem quatro (4). Estão a pensar o mesmo que eu?! Daqui a 15 anos teremos a mesma coisa a quadruplicar se as condições atmosféricas forem idênticas e isso pode muito bem acontecer...
A grande diferença da nossa terra para outras terras que tem dado passos importantes para minimizar o perigo é a liderança. A liderança e a iniciativa não podem estar em pessoas que mal conhecem o território, que por mais força anímica que tenham, por melhor intenção que tenham, e por mais ou menos iniciativa e domínio das novas tecnologias, falta-lhes o conhecimento do terreno, a paciência, o saber ouvir e compreender aqueles que são proprietários, aqueles que vivem lá o ano todo, e aqueles que tem a experiência e o conhecimento da realidade da terra e das suas gentes.
É preciso construir um futuro, e esse futuro só se constrói com as pessoas que lá vivem. É necessário, se é que ainda vamos a tempo, estabelecer perímetros e estratégias até onde podem vir as árvores mais perigosas...é preciso estarmos de acordo...se não todos, a maioria...
Plantar uma árvore aqui e ali...algumas a poucos metros de habitações...é tempo perdido, tem pouca eficácia e nada acrescenta...prejudica-nos.
Temo por Pomares!
Olho à sua volta e vejo o azul do eucalipto, não o verde que outrora predominava...
Voltarei ao assunto...e reactivei o Blog, porque é aqui que partilho a opinião a que tenho direito!!! Por mais que doa, ou que incomode!
E para terminar por agora, um pequeno video em que tento mostrar um pouco do "inferno" que atravessei; visibilidade reduzida e a incógnita do que me esperava uns metros mais à frente...felizmente correu bem...mas vi alguns automóveis a inverter a marcha e a deixarem-me na dúvida...eu tinha de chegar a Pomares e cheguei...
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