Às vezes dou por mim a pensar que perdi muitas das características de origem, da minha condição de serrano e aldeão, e da minha origem camponesa. Perdi características devido à vivência em meio urbano durante décadas, onde os ovos e as galinhas vêm do supermercado, e às tantas já não somos capazes de matar uma galinha ou um coelho para nos alimentarmos, coisa mais natural do mundo para um aldeão que tinha que produzir para comer, e se queria carne tinha que matar. Vem tudo isto a propósito da tradicional matança do porco, que tem legislação que chegue...mas não há legislação que nos mate a fome nem que nos venha administrar a casa. Nas aldeias, a matança do porco era também uma forma de convívio ente os vizinhos mais próximos que se entreajudavam, cuja tradição e partilha foi caindo em desuso, e hoje só aqui ou ali ainda se pode assistir. A morte de um animal não é coisa agradável de ver, mas faz parte da vida de uma aldeia, e se considerarmos que o animal foi criado para alimentação humana, para sustento da casa, e que quem o matou traz consigo a experiência de muitas centenas e meio século de faca afiada, o sofrimento não será maior do que o stress em fila de espera num grande matadouro.
Enfim, o arroz de sarrabulho estava muito bom, e os rojões que se pode dizer (?), se o porquito foi criado com a ração caseira, batatas couves e tudo o que a terra produz, afinal é aqui que a carne é diferente e o sacrifício compreensível.
Para os meus amigos, desejo-lhes saúde para criarem sempre o seu porquinho. Por tudo, e porque merecem!
Quem não gosta de uma morcela?
Depois espera-as o fumeiro...
Segue-se a desmancha depois de escorrido...
E nada se perde...tudo é aproveitado...
Até a lingua...que esta não dizia mal de ninguém...
Chegam ecos de Pomares...que nos dão conta da tradição e das práticas religiosas deste Domingo de Pascoa na nossa terra. A procissão, a visita pascal, o beijar da Cruz, que é levada a todos os lares.
É uma tradição enraizada na nossa população, mas tal como muitas outras tradições tem vindo a decrescer de dia para dia.
A matança do porco é uma azáfama que envolve sempre amigos e familiares para ajudar. Sendo uma tradição, não deixa de ser um acto violento, e é por isso mesmo, com respeito aos animais e aos visitantes deste blog que não publico algumas fotos que poderão ferir algumas sensibilidades.
Mas a vida é assim mesmo e o nascimento e a morte são actos violentos.
Adiante...
O produto final, ou seja a carne obtida do animal é abissalmente diferente em textura e sabor daquela carne de produção industrial que compramos nos talhos. Estes animais criados com produtos naturais fazem toda a diferença.
Chamuscar o porco, que consiste na retirada da pilosidade cerdosa e da primeira camada da derme, das unhas, do focinho e das orelhas.
Chambaril colocado nas patas traseiras para pendurar o animal a escorrer, da lavagem e do resto do sangue e para a preparação da desmancha.
O inicio da desmancha que obedece a cortes precisos para aproveitamento de todo o animal.
A "suã", a parte que envolve a barriga e o peito do porco, já sem pele que será a carne utilizada para uns torresmos de excelência.
A análise das víceras que atestam a boa saúde do animal.
A carne de porco está quente e só no dia seguinte se fazem os torresmos, mas para o dia uma chanfana cozinhada em forno de lenha é a ementa para os familiares e amigos.
Olhem só para este aspecto...
Familiares e amigos.
Um aspecto da mesa, onde não faltou a tijelada, o arroz doce, pudim, mousse de choicolate etc.
Entretanto, no próprio dia é preciso fazer as chouriças de sangue...este aspecto é assim, até levarem com água quente para não se estragarem adquirindo uma cor escura. Depois são postas no fumeiro a secar.
No dia seguinte, corta-se a carne para preparar as chouriças de carne...e almoçam-se os torresmos e o arroz de fressura....
Os torresmos....
Devo confessar que foi uma bela dieta...
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